sábado, 30 de agosto de 2008

Quando criança, Isabel queria ser astronauta. Passou pela fase de pintora - o irmão quinze anos mais velho era artista plástico e começava a ser fazer um certo movimento na sua casa que ela, com sete anos, não entendia muito bem; sabia que eram amigos de seu pai, e que sua mãe não gostava muito deles, pois em determinados intervalos cronometrados ia à cozinha, virava à esquerda, andava dois passos, abria a janela, fumava um cigarro, reclamava "ah, Antônio, ah, Antônio", e voltava à sala novamente. Isabel pressentia no ar uma certa felicidade também, provinda do seu irmão, quando um amigo de seu pai batia na costas dele e dizia: "Tudo, bem, toninho, vou levar este aqui, seu garoto tem futuro, hein?" e eles batiam as portas dos elevadores, e falavam alto, e dirigiam os seus carros enormes e sempre tão escuros que soltavam muita fumaça. isabel não queria ser igual a eles.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

pra onde eu vou, venha também.

pra onde eu vou, venha também.

tan tan tan.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"você não está entendendo essa vontade que sobe; viver queima, arde, arranha na garganta; é algo místico, ainda que eu não acredite em nada disso. viver deveria ser uma bela experimentação que eu transformei em um filme qualquer de fim-de-tarde, assistindo às cenas e recitando, antes que a mocinha abra a boca, as falas finais".

domingo, 24 de agosto de 2008

quando estou triste, gosto de me refugiar na sala escura do cinema - é o único lugar onde desabafo e choro. verto todas as lágrimas que consigo, ninguém me vê, ninguém me escuta, o meu rosto passa polido, quase confudindo-se com o chão. choro sozinha porque não consigo chorar em público; se pudesse, talvez tentasse para conseguir um colo, uma atenção qualquer. mas por motivos de força maior, que não sei explicar - afinal, todo ser humano necessita um colo, mesmo que forçado e até falso - não consigo. sou reclusa.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Incrível como o recente cinema paulista tem se sobressaído ao cinema carioca. Desde a retomada do cinema nacional, o que se vê são filmes atolando-se na mesmice da favela carioca enquanto diretores/roteiristas como Beto Brant, Marçal Aquino, Laís Bodansky, Heitor Dhalia, o recém-adotado paulista Murilo Salles e o mais novo na área, Reinaldo Pinheiro, buscam incorporar São Paulo em seus personagens.

"Era uma vez", do Breno Silveira, e "Nossa vida não cabe num Opala" são a perfeita representação desse contraste entre as duas galerinhas cinematográficas (o que também é uma distinção - enquanto aqui no Rio existe a panela da Conspiração, Leribe e Globo Filmes, em Sampa, a produção cinematográfica é uma grande teia de produtoras envolvendo, inclusive, dinheiro do Nordeste e de outros países; além, claro, do enorme incentivo que o governo paulista dá para produções que falem de São Paulo, para o bem ou para o mal): enquanto o filme do Breno é a maior porcaria surgida nesse filão de cinema de favela, "Opala" é uma sensacional obra em quadrinhos filmada.

Ambos os filmes se utilizam de clichês, certo? Mas enquanto "Era uma vez" os lambuza com mel e aveia, e acredita que a simples existência deles conquista a platéia, sem a necessidade de um roteiro coeso e uma direção segura, "Opala" dança com o clichê de boxeador, do irmão imbecil, da menina certinha que vira prostituta. Engraçado que ambos os filmes bebem na fonte de Shakeaspeare - o filme do Breno é um Romeu e Julieta no Cantagalo chupado, sem nenhuma originalidade. Já Reinaldo Pinheiro pega Hamlet e subverte, transforma, ironiza - afinal, a relação entre literatura e cinema não deveria ser essa?

Os cineastas/roteiristas/produtores cariocas caíram no esparro do gênero - alô, Hollywood já fez isso, e percebeu que não dá certo. Inclusive ela percebeu há anos atrás. Diversificar a produção cinematográfica é o primeiro passo para a construção da tão sonhada indústria brasileira - mas como fazer isso se as principais apostas das produtoras cariocas são em um único gênero? Para esse ano, mais duas produções vão estrear sobre a problemática das favelas. Além de "Show de bola", filme em que o Thiago Martins - o Romeu do Cantagalo - aparece novamente. Entendam-me bem, eu não sou contra Cidade de Deus - um dos meus filmes prediletos e que foi definitivo, mais do que qualquer Glauber Rocha, para dar um pontapé na identidade brasileira -, sou contra a repetição desse mesmo modelo ad infinitum. E como diz Walter Benjamin, gente, toda repetição em massa perde qualidade.

Enfim, vão aos cinemas, vejam "Nossa vida não cabe num Opala", aplaudam Leonardo Medeiros numa interpretação sublime de como um festival de clichês pode se transformar em um personagem interessantíssimo, entendam por que Maria Luísa Medonça ganhou o Calango de melhor atriz em Recife e ouçam a interessantíssima trilha sonora escrita pelo Mário Bertolotto, escritor também da peça que deu origem ao filme. A fotografia é despudoramente marginal, e a montagem é um detalhe à parte - um sopro de criatividade em meio a essas montagens feijão-com-arroz da Globo Filmes.

Abraços,

L.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

eu vou escrever um livro; ele vai se chamar Tratado Definitivo Sobre O Amor, assim tudo em maiúscula mesmo, porque não é qualquer amor, é O amor, então até fosse justificável ser tudo em minúscula e apenas o artigo em caps lock - tratado definitivo sobre O amor - mas acredito que a editora iria achar muito vanguardista e isso poderia vir a ser um problema nas negociações, e eu não quero problema algum com coisa nenhuma, então está decidido que o título é esse.

***

serão várias histórias dentro de uma só. vários amores dentro de um corpo. um braço. a personagem principal só tem um braço.

***

vou escrever por dias e noites; vou fingir estar trabalhando quando na verdade estarei escrevendo; não mais comerei para escrever, e apenas quando ele tiver 137 páginas estarei satisfeita. ele há de ser definitivo, mas nem por isso chato. e qualquer coisa acima de 150 páginas, hoje em dia, com todo mundo sendo tão prolixo, será chato.

***

ela se chamará manuela. isabel. beatriz. virgínia.

débora.

bárbara. (não, bárbara é nome de puta)

isabel é nome de santa.

virgínia é nome de intelectual.

talvez ana-alguma-coisa.

***
queria não ter de acordar. dormir, dormir, dormir - e não sair de casa.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

não foi nada daquilo, só ando na minha - preferencialmente na cama branca -, esses gatos, esses livros.

a saudade.

de tudo. para todos.

domingo, 10 de agosto de 2008

você me perguntou tantas coisas, muitas coisas
falou sobre a minha raiva
mordendo pedaços de tabaco, queria cuspir
mas
-não tinha coragem.
ihhh, falei demais.
tentei te explicar a intensidade da minha saliva,
mas não, você não quis ouvir
-isso não é bonito, tentou argumentar
-eu gosto da normalidade

ah

poxa

estava tudo indo tão bem.

ignorei o comentário, acendi outro cigarro
começava a chover na janela do rio de janeiro
pequenas gotas de sexo
ilusão
cinismo
e solidão.
você não entende meus poemas, considera todos muito bonitos
mas alguns não foram feitos pela beleza
são feios e sangram
como
-você não vê isso?

tec tec tec
o gato brinca com uma caneta
vermelho virou o quarto
pintada de cinza está a cama
arte conceitual?
você detesta
qualquer
tipo
de
arte
que não seja aquela de tempos imemoriais

uma aspirina repousa suavemente na mesa de cabeceira
sei do seu desejo por ela
e conheço a dor
mas sabe com o que eu sonhei ontem?
uma festa
(ou foi hoje?)
foi ontem, definitivamente ontem

uma festa enorme
numa casa enorme
com balões enormes
e grandes copos de coragem líquida

como em alice,
tudo era muito grande
até os meus sapatos, que invadiram o salão
e eu dançava
dançava
e ria
e gritava
alucinada
anestesiada
capaz
de me divertir
- de ser
alguém
sem
- você.
fui ver batman pela décima-terceira vez, e não por um senso de obra-prima ou o que seja, mas além do fato de levar um amigo ao cinema, um ponto específico da minha tese sobre o nolan tinha que ser provado empiricamente.

o nolan é um obssessivo. como todo grande diretor. que persegue um único assunto - nunca encontra uma resposta, obviamente, porque se encontrasse, adeus grande diretor -, em toda a sua obra. hitchcock é o medo, scorsese é a fé, tarantino é o passado (e mais especificamente, a adolescência).

em todos os filmes do nolan, ele trata de um único tema apenas. dane-se frank miller, batman, warner brothers. e o ledger entrou na onda dele. por isso o coringa não é apenas criação do ledger - 50% pertencem ao nolan. até porque ele escreveu o roteiro as well.

(todo diretor obsessivo também escreve o roteiro; hitchcock trabalhava com story board, o que no caso dele, substitui o roteiro, visto que ele pegava umas histórias chinfrins, uns livros ruins para caralho, extraía o medo, colocava uns passáros na grade - panz!)

se o próximo filme for realmente o do pingüim/charada, vai ser muito fácil. pela própria HQ, os dois já são esquizofrênicos.

(aí você vem e me fala - mas na HQ, o Coringa também era louco! eu te respondo - no de 89, Tim Burton, o Coringa do Nicholson não era louco. era um criminoso, bandido, sagaz, esperto, irônico - charmoso. o Coringa de Ledger/Nolan está no limite entre o sadomasoquismo, o niilismo e a loucura.)

sábado, 9 de agosto de 2008

da minha janela ouço o tiroteio e penso que preciso de veneno, veneno, e chega de aspirinas.

domingo, 3 de agosto de 2008

eu queria dizer quando liguei pra você que estava com saudade e queria que sete anos fossem reduzidos a pó, mas não saiu, porque na verdade não existia. era só ilusão.