quinta-feira, 30 de julho de 2009

eu acredito nas palavras, nas vírgulas, nos engasgos e nas malditas. não acredito em imagens, porém, nesse mundo de alterações e montagens. não me levem a mal, não falo dos grandes, como meu tão-grande amigo evandro e o tão-ser-superior cartier bresson, e aquele menino tão bacana, o avedon. esses não fazem imagem, não é, fazem poesia em configuração CYMK. ( eles têm os olhos ágeis, eu tenho dedos histéricos)

mas toda essa introdução é para dizer que não esqueci, que estou aqui, que não morri e que não desisti - depois de muito muito, a parede da minha sala fez um buraco em que recepciona perfeitamente a forma da minha cabeça.

como vocês estão? bem? espero que sim. no rio, faz frio. ainda. chove, neva. umas nuvens negras tão feias, carregam toda a esperança de uma grama verde e cheirosa. eu continuo com quarenta anos - uma vez, li uma entrevista da maria rita em que ela contava ter sempre se sentido muito velha. morava sozinha em nova york, o pai e os irmãos viviam no rio. no aniversário de trinta anos, encontrou-se. hoje vive feliz, e cada vez mais jovem. (percebe-se nas roupas) uma espécie de benjamin button. espero que isso aconteça comigo, e eu morra um bebêzinho de olhos bem verdes e já cansados de tanto mundo.

de resto, os correios roubaram meus livros e meus filmes, e eu não minto aqui, esta é toda a verdade. cansei. agora quero saber apenas do olho-no-olho. e-mail não pode, que o google invade e rouba sua vida to-di-nha. se é carta, os correios roubam para fazer sarau lá em madureira ao som de suas poesias infames. (daqui a pouco dá funk). a saída? só entrego agora em mãos.

outro dia estava saindo do cinema - fui ver um péssimo, péssimo filme com o johnny depp - e avistei três velhinhos, de braços dados, um ajudando o outro a andar, caminhando lentamente e conversando sobre amenidades.

sinto falta. de muita coisa. mas cada vez menos. talvez seja um avanço. talvez seja perda de memória devido a abuso alcóolico.

botafogo

as luzes do dona marta formam
o colar de pérolas
de uma princesa
dado por um gigante
adormecido
do qual ninguém
- nunca mais -
ouviu falar
bolas fumegantes de
azul, vermelho e amarelo
compõem o fino e precioso objeto
fruto de divagações, guerras e análises
- onde dorme tamanho homem?
por que nunca veio resgatar a beldade?
como conseguiu enorme relíquia?
a princesa espera
surda e calada com a porta
do barraco aberta
porque dias melhores virão
como naquele filme do cacá.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

amor

mau humor pela manhã
- você vai perder o emprego
não esquece de pagar as contas
trouxe a comida do gato?

depois, a separação.
você, no cinco meia nove, eu
no cinco oito três a ler
histórias noir com o detetive bogart

(o relógio do jornal
anda quebrado, ao menos há
uma janela, por onde vejo os lírios
se abrindo em setembro)

o reencontro é tão doce.

depois do trânsito
chefe
mal-amado
pernas curtas e
testas longas
conhaque mofado

te ver é o encontro do
mar e da montanha
na praia de botafogo,
em noite de céu estrelado
quando os casais dançam
nos barquinhos
rumo ao infinito.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

sem tempo nem céu
para o rio de janeiro
- suas bundas,
travestis, beijos longos
e suados

empacotei minhas rosas e minhas dores
para subir a serra.

ah, o frio,
o cheiro doce de café

- parece domingo de novo
com heliana e tio josé
na varanda
provocando receitas de família
e bacalhau

eu sento.
acendo um cigarro.
você diz:

- hoje o tempo é de cavalos.

se não há felicidade plena,
existe o silêncio
e a paz.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

terceiro inverno no rio. você acha que ficaria mais fácil, mas qual. é ainda pior.

veio julho, e com ele mais um outro concurso que perdi. dessa vez, não foi de poesia, mas de cinema. a reação, entretanto, é a mesma: vou deixar pra lá esse troço que chamam "arte" e cuidar desse troço que chamam "vida".

lembro de todos os concursos que ganhei. o primeiro, no colégio de padres. o segundo, da tilibra - ganhei três cadernos. minha mãe ficou com dois. e o último, no meu antigo colégio. na hora de declamar a poesia, gelei e não levei o primeiro lugar. mas, ô, gente estúpida! se poeta gostasse de público ia ser ator.

cortei o cabelo. à espera da abertura de alguma cortina celestial a fim de me mostrar o melhor caminho. andar pelo acostamento tem lá suas vantagens e diversões próprias, mas uma direção, de vez em quando, nem que seja sinal de caminhoneiro.

e fica essa dorzinha aqui, costumeira, me avisando que existe uma janela muito fácil de ser aberta, e nela, não se precisa nem pensar.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

... e nessas horas onde o céu desaba, o rio de janeiro nada mais é quem um sonho belo e a vida se enfurna em um desses armários longos de madeira, eu respiro.

se as coisas poderiam ser pior? claro. salvador é uma cidade que fede, em sua transpiração à base de água do mar: desejos e dejetos. ali, na praia do rio vermelho.

não, não é possível voltar. mesmo que você queira. ainda que eu fique sozinha, e que todos nossos planos sejam nuvens.

não é possível voltar. na verdade, meus botões pensam, eu concordo, seria tão mais fácil dissolver-se no mar. esquecer...