domingo, 25 de outubro de 2009

outra do mais do mesmo: não consigo passar muito tempo fazendo a mesma coisa, e começo a me perguntar se não estaria perdendo meu tempo fazendo essa atual. a segunda parte da tramóia é começar a pensar que, bem, já que estou pensando em explorar outros territórios, então talvez não seja exatamente capaz nessa minha área - e deva ir fazer alguma outra, como cantar, pintar, dirigir um circo ou trabalhar em um restaurante.

dessa sensação, de não pertencimento, de não encontramento, de não, não, não, nasce um choro bem amuado, um canto bem ali no quarto. não estou aqui, não estou lá, não estou com você, em nenhum lugar. essa estranha necessidade constante de mudança - para mais longe, mais longe, até a estrelas, mas vem comigo por favor - me coloca nesse trem-fantasma, partindo de uma estação que já se acaba na noite, distante e sem rumo, e o pior de tudo - vazio, com apenas uma passageira.

sábado, 24 de outubro de 2009

2nd day in london

saturday morning. toda uma cidade para descobrir.

acordei cedo, sem nem conseguir comer, e parti para portobello market, o tradicional mercado de TUDO que acontece aos sábados em notting hill. me disseram para não chegar cedo; desobedeci à norma e encontrei muitas lojas vazias. uma estava aberta, a de uma simpática go-go girl, colecionadora de caveiras e snoopys.

mimmi tem uns 25 anos, cabelo preto bem preto, unhas vermelho-carmim, sombra roxa e dois brincos de navios piratas. deixa mensagens bem-humoradas e atrevidas para os clientes: no espelho, "your hair is fine"; na prateleira de betty boop, "you can look like her, but she's better". levei um par de âncoras. mimmi me disse que eram os favoritos dela. usava uma blusa "if you don't love my city, fuck off".

portobello market é uma sensação, um instante marcado de um tempo. livros raros, que jamais você irá encontrar novamente - uma edição de alice no país do espelho de 1957, em que ainda há o cheiro de tinta -, estão lado a lado com jovens músicos e óculos coloridos, além de antigas máquinas fotográficas - a polaroid ainda existe, sim! - e muitos casacos sem dono. um dia, todas essas peles foram de alguém, mas agora... estão no cabide, por 10 pounds.

muitas antiguidades: anéis, passadeiras, penteadeiras, brincos. um quebra-cabeças de quem teria usado o quê, quando e onde - em uma festa, em um jantar, em um primeiro encontro com um namorado, escondida dos pais, em hyde park?

depois, camden town. cinza, poluída, caótica, com lambretas no lugar de bancos e um lago sujo. my favorite place in the whole world. se deus descesse do seu alto trono nos céus, veria que a babel funciona: franceses, espanhóis, argentinos, turcos, afegães, colombianos, indianos. e funciona. camden é uma versão punk do mercado de notting hill, com três setores principais: o market, o food place, e o lake. se você quer tapetes indianos, é lá. um graffiti artist/tatuador pintando uma camiseta/quadro, é lá. um francês e seu ajudante afegão para fazer um tour por londres à noite e ainda ganhar óculos de graça, é lá.

certas coisas não devem ser contadas: guardamos para não morrer quando do relato para outras.

a waterloo bridge, o london eye, o big ben, e especialmente, o st. james's park com pizza e estrelas à noite, são dessas. antes que se percam na próxima esquina, no próximo sussurro.

first day in london

(ao som de nada.)

a primeira visão de quem sai do heathrow airport é o subúrbio. as casas todas iguais, com aquela vermelhidão típica e as chaminés soltando fumaça. a temperatura está boa - não uso luvas, mas estou de botas e um casaco. é cedo. muitas, muitas pessoas lêem o jornal. alguns dormem.

em earl's court, muitas pessoas passando, de um lado para o outro. é um bairro residencial, perto de chelsea, charmosérrimo. árvores imensas a cada quarteirão. um starbucks. uma banca de jornal em frente ao metrô! eles vendem cigarros - que bom.

por muitos minutos, não acreditei. segui a earl's court road, virei na lillie road, cheguei ao hotel. abri a janela: londres. inteira, somente para mim.

voltei ao metrô, em direção a leicester square. quantas luzes, quantas pessoas, quantas lojas, quanto vento. eu vento, nós ventamos, eles ventam. entrei e saí de umas trinta lojas, pelo menos, entre livrarias, lojas de discos (sim, elas ainda existem! encontrei um cd raríssimo do velvet underground por 3 pounds), brechós (muitos, muitos, muitos), galerias de arte. em uma, o cara vendia reproduções de banksy como louco (que, aliás, estão em todo lugar). mostrei a ele a minha tatuagem - e ganhei um quadro. gentileza.

quando a noite caiu, eles saíram, aos montes. eu ali, mais achada que perdida, caminhando. feliz, de verdade, de poder sustentar essa felicidade e segurá-la com mãos, pés, boca.

na volta pra earl's court, parei em pub (levemente amaciada por um outro em leicester). seu dono se chamava stanford, e era australiano. o único garçom era jim, ator, belíssimo. símile de modelo italino - olhos fortes, nariz grande, queixo poderoso. stanford havia saído recentemente dos anos 70 e parou ali por mero acaso: cabelo loiro enorme, blusa do pink floyd, óculos de lennon. a família é da irlanda, e ele era o único filho a ficar na terra, ao lado do pai. depois, cansou. e veio para londres. morou com a irmã um tempo, e hoje está aí.

fazia muito frio. coloquei minhas luvas, acendi um cigarro. ainda havia tempo para uma última guiness no pub em frente ao hotel - mas as pessoas estavam com sono, queriam ir para casa, na tv estava passando futebol. fui embora para um sono tranqüilo. acordei com medo de ser sonho. não: estava em londres mesmo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

(escrevo porque se contasse tudo que realmente sinto às pessoas, ou elas fugiriam ou pior, me silenciariam).

desenho ziguezagues
para me encontrar
nas esquinas áridas
das certezas
onde deixei meus sonhos
- quem sabe
vejo um amigo,
atravesso a rua.
mas ele não está. nunca esteve.

o mofo do rio de janeiro
me toma o ar
sobe à minha garganta

o que antes era era fértil
tão somente agora é
linha.

no quintal onde amanheceu
o ontem,
morreram todas as violetas.

restou pó.
restou sombra.
restou noite.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

já nasci adulta; aliás, torne-me adulta muito cedo. queria ser como essas pessoas leves, que olham pela janela e avistam árvores, um resquício de nuvem, a vizinha chegando com maçãs frescas nas compras. meu olhar vê o sinal vermelho, o homem varrendo a rua, as flores amarelas que deitam sobre o asfalto.

minha esperança consiste em tornar-me criança à medida que os anos passem; esquecer as responsabilidades, aposentar os cintos de segurança, abrir os braços. sentir o vento.
A pior parte dessa obrigação de sair de casa todos os dias e encarar o mundo é tolerar essas expectativas. Os outros, os outros, os outros - sempre maiores, melhores, azuis, que não bebem da água suja, não molham os sapatos na lama, e esperam que faça o mesmo.

angry birds fly away
join the rain
those dirty filthy streets
covered with lame.
i put on my black coat
and
tried to avoid the pain
though your silly little words
never escaped me.

deve existir algo maior - muito maior que isso. não é a simplicidade que me irrita, é a falta de opções.

domingo, 4 de outubro de 2009

hoje eu acordei tendo que fazer mercado. falta pasta de dente, aabonete e eu ainda prometi que iria arrumar a casa. há certo sentimento de libertação em recolher os papéis jogados no chão - mas da mesma forma, é uma grande responsabilidade escolher o que fica e o que vai. guardo muitas coisas - até as banais, como ingressos de cinema, ofertas de agências de viagem para bem longe, muito longe. estava com vontade de apenas deixar a preguiçar invadir, sem vergonha mesmo, e largar os compromissos para depois. mas há tempo? há tempo para depois? é tudo milimetricamente tão organizado, distribuído, embalado. hoje é domingo e as nuvens batem à minha janela, aqui em laranjeiras. daí que vou sair, sim. com a lista na mão e a caneta ao lado. tentar ser mais uma na multidão.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

entendi: nesses dias, me sinto um pássaro perdido.
há noites em que chego em casa cansada dos livros, do trabalho, do gato, das contas e me sinto vazia, mas tão vazia que sequer um alfinete encontraria abrigo. tanta coisa por fazer, tanto tempo a não perder - sem rumo, sem sentido, sem motivo.

esse pequeno apartamento parece grande demais e minhas dúvidas tomam conta - dúvidas, dúvidas, sou toda dúvidas. certezas, não há. os outros, sim; eles. eu, não.

todos têm tantas certezas. aqui dentro, reinam nuvens.