quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

E mais uma vez estou num ônibus para São Paulo; uma gangorra. Pacientemente deslizo os pés entre as argolas de metal a fim de que o peso recaia sobre o outro lado. Não adianta muito. Paira por aqui uma nuvem de palavras, espessas e escorregadias. Estive uma vez em companhia de Elvis por toda a Dutra; ele estava no Havaí e tocava ukelele. Elvis nunca esteve em Vegas - sua casa sempre foi Honolulu. Elvis de Vegas é chato, ridículo, previsível. Elvis de Honolulu tem um toque de rum. Ainda não chove, mas a vidraça está suja de gotas d'água. Água de outros dias. Aos meus pés, um senhor de fios dourados; os postes ainda estão acesos. Eisenstein: um plano deve carregar em si uma parte da informação referente ao todo da imagem e ao justapor este a outro plano, também esse carregado de informação imagetica do todo, mas sendo uma outra parte da forma, atinge-se a ideia do filme. O todo. Os vidros sujos. Os guindastes solitários - gruas, gruas - do porto, erguendo seu gigantismo sobre o negro nada. O reflexo do postes acesos ainda sobre duas bolas castanhas.